Publicado em: 24 de setembro de 2024
Nova iniciativa do SINDJU promove espaço para debates sobre gênero e sororidade entre mulheres do judiciário paraense
Criado por um grupo de servidoras do TJ e associadas ao SINDJU, o Coletivo Eneidas foi oficialmente lançado em 8 de março de 2024, visando promover um espaço para o desenvolvimento de sororidade entre as mulheres do judiciário e da comunidade em geral. A formação do grupo ocorre em um momento histórico para o sindicalismo judiciário paraense, com a nova diretoria do sindicato sendo composta pelo maior número de mulheres até agora.
Segundo Ana Paula Sobrinho, uma das fundadoras do grupo, “para alcançar este objetivo é necessário acessar e debater mais conteúdos feministas, para provocar reflexões a respeito das vivências atravessadas pelas questões de gênero que experimentamos diariamente”. Ana ressalta que muitas dessas questões passam despercebidas, mas têm impactos emocionais e físicos significativos.
A primeira roda de conversa do coletivo ocorreu no último dia 23 de agosto, com a participação da psicóloga e professora Bárbara Sórdi, que propôs uma atividade inicial para o coletivo de mulheres. Ana Paula descreveu o evento como “rico em aprendizados e trocas”, destacando o potencial do grupo para construir um espaço coletivo de apoio e fortalecimento mútuo. “Construir a coletividade a partir de mulheres fortalecidas traz um impacto positivo para toda a sociedade”, afirma.
A iniciativa já começa a inspirar mulheres dentro do judiciário, como a auxiliar judiciária Gabriela Araújo, lotada na comarca da capital. “Fiquei muito entusiasmada com a criação do coletivo de mulheres, atende a um anseio meu já bastante antigo. Idealizo que conforme nossa organização se estruture e se fortaleça, nossa consciência coletiva seja impulsionada. Que formemos uma grande rede de apoio e força feminina”, detalha.
Simone Moreira, servidora e integrante do coletivo, conta que a criação do grupo é a concretização de um sonho antigo, que já vinha sendo idealizado desde a gestão anterior, da qual fez parte como dirigente. “É a coroação do protagonismo feminino na luta sindical, uma vez que, desde o início da reorganização do SINDJU, em 2016, as mulheres têm estado à frente em número e força. “As mulheres comparecem em peso”, comenta, reforçando que o coletivo veio formalizar uma realidade já existente e, ao mesmo tempo, aprofundar discussões essenciais sobre a perspectiva de gênero, que vão além dos direitos como servidoras.
“Existem fotos, registros de atos nossos que a gente vê a diferença em números da presença de mulheres e de homens, é só confirmação de que a luta é feminina mesmo. Então, o Coletivo de Mulheres veio só institucionalizar uma situação que já havia e aprofundar mais ainda a discussão para além dos direitos como servidor, para a nossa perspectiva de gênero, porque basta a gente viver o dia a dia para ver a quantidade de agressões que nós sofremos, de todos os tipos, então é fundamental as mulheres mais organizadas ainda para fortalecer mais ainda a luta sindical e a nossa luta de gênero”, detalha.
Bárbara Sordi, psicóloga, professora e mediadora da atividade, compartilhou, durante a roda de conversa, sua experiência à frente de um coletivo voltado ao combate à violência e à reflexão sobre questões de gênero, destacando o papel fundamental de iniciativas como o Coletivo Eneidas. Para ela, esse projeto nasce com grande potencial, especialmente por promover debates sobre gênero, algo crucial tanto para as vivências pessoais das mulheres quanto para o ambiente do judiciário, que, como outras instituições sociais, pode reproduzir discursos discriminatórios. “Acredito que o projeto tem um grande potencial, primeiramente porque falar de gênero é algo que hoje se faz necessário na nossa cultura (…) e porque nós mulheres somos atravessadas por questões de gênero, não só no ambiente de trabalho, mas também nas relações sociais e nos lugares que a gente transita”, explica.
Segundo Bárbara, a qualificação teórica e crítica dos profissionais do judiciário é essencial para transformar a cultura institucional e estrutural, refletindo-se nas práticas e serviços oferecidos à comunidade. Ela acredita que o Coletivo Eneidas pode ser um espaço de transformação, cujas ações e reflexões não se limitam ao grupo, mas reverberam nos campos onde as participantes atuam, ampliando o impacto e promovendo mudanças em práticas naturalizadas e institucionalizadas, e detalha: “o judiciário é um local que, como todas as instituições sociais, pode replicar discursividades que fomentam e promovem práticas discriminatórias. Nesse sentido, é crescente a discussão sobre a importância de o judiciário aderir a uma perspectiva antidiscriminatória de gênero em suas atuações e na compreensão dos fenômenos sociais, incluindo a maneira como suas práticas se refletem nos serviços oferecidos à comunidade. Portanto, quanto mais pudermos qualificar esses profissionais com uma base teórica crítica, mais avançaremos na transformação dessas práticas”.
No fim do mês de setembro, o coletivo já tem outra atividade planejada: dia 27 haverá uma sessão de leitura e troca de percepções online, com o objetivo de aprofundar os debates sobre questões de gênero. O livro escolhido para essa primeira leitura coletiva ainda será definido e divulgado em breve.
A presença de um coletivo de mulheres dentro do SINDJU também tem implicações significativas para a gestão sindical. Com um grupo dedicado a questões femininas, há uma probabilidade maior de que as preocupações e necessidades das mulheres sejam integradas nas decisões e políticas do sindicato, promovendo mudanças que reflitam uma maior igualdade e justiça de gênero.
O coletivo também desempenha um papel educativo ao promover a conscientização sobre temas feministas e de gênero, beneficiando não apenas as integrantes, mas também a comunidade em geral. Assim, o Coletivo Eneidas contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária, amplificando a voz feminina e promovendo uma maior compreensão das questões de gênero no contexto sindical e além.